"A habitação é um direito constitucional. Incumbe, pois, ao Estado promover as políticas, públicas ou privadas, que a todos garantam uma morada condigna. O problema torna-se, todavia, mais complexo, se atentarmos ao facto de que habitar não é apenas ver garantidas as condições de higiene e privacidade que a Constituição consagra. É muito mais do que isso. Habitar - tal como amar, recordar ou morrer - é um dos verbos que proclamam a nossa presença no mundo. A disciplina que estabelece as regras da sua conjugação é a Arquitetura. Cabe, pois, aos arquitetos, mais do que a quaisquer outros profissionais, saber conjuga-lo, para escrever - se possível sem erros! - o infinito texto da cidade.
O Funchal tem vários bairros e conjuntos habitacionais de iniciativa pública ou cooperativa, desenhados por arquitetos: o Bairro da Nazaré, no Funchal, por Rafael Botelho; ou o Bairro Económico dos Pescadores, em Câmara de Lobos, por Rui Goes Ferreira, são dois bons exemplos de como a arquitetura pode fundar um lugar, criando um sentido de pertença à comunidade que o habita. O contrário disto, infelizmente, também acontece: nos bairros sociais atirados para as periferias da cidade, enterrados nos vales das ribeiras, maquinalmente concebidos por gente que não sabe, não pode ou não quer fazer melhor. É tempo de fazer melhor, de lançar concursos de concepção que substituam o desenho analfabeto pelo desenho de qualidade, baixando os custos de construção e dando atenção à vida de quem vai Habitar, no pleno sentido da palavra.
É para debater a cidade e as políticas de habitação coletiva que a vão conformando que a Delegação da Madeira da Ordem dos Arquitetos promove, no próximo dia 8 de novembro, no âmbito das comemorações do dia da arquitetura, a conferência que tem por título “Habitação Coletiva: Cidade para todos”, que contará com a presença de um conjunto de especialistas de variadas proveniências."
A Delegação da Madeira da Ordem dos Arquitetos realiza a sua Conferência Anual de Celebração do Mês da Arquitetura “Habitação Coletiva: Cidade para todos”, no Auditório do Museu da Electricidade, Funchal, no dia 8 de novembro, data em que se comemora o 93º aniversário do Arquitecto Rui Goes Ferreira.
A assinalar esta data apresentou-se o projecto do Bairro dos Pescadores, um projecto
desenvolvido no atelier de Rui Goes Ferreira, durante a década de 70, em Câmara
de Lobos. "A justeza do lugar e as condições de habitabilidade oferecidas por
este conjunto de casas traduziram-se numa rápida apropriação por parte de quem
era suposto habitá-las, logo após a sua construção, concluída em 1982. Com ele se construiu cidade e se respondeu às necessidades de integração social de uma comunidade que enfrentava reais"
O painel conta ainda com a participação de Helena
Roseta, Nuno Brandão da Costa, Ricardo Carvalho e Luís Spranger, sob moderação
de Luís Vilhena.